Entrevista concedida ao Jornal Design para a edição de Maio/18
O crescimento dentro das empresas é quase uma obsessão. Em tempos em que a economia brasileira estava em franca expansão, o crescimento era natural, mas desde 2015 a retração obrigou as organizações a redefinirem conceitos.
“O empresário lida naturalmente com o crescimento, baseado na sua experiência de empreendedor de sucesso. Com a crise econômica enfrenta dificuldade para lidar com a queda de faturamento e a necessidade de redução de equipe e estrutura”, pondera o diretor da Inforti Desenvolvimento Gerencial, Márcio Otton.
Nesta entrevista, ele fala um pouco sobre formas de crescimento, aborda a relação entre rentabilidade e lucratividade e mostra meios para se chegar à desejada saúde financeira.
As empresas precisam, necessariamente, crescer ano a ano, não existe um ponto de equilíbrio?
A primeira referência de crescimento é o PIB (Produto Interno Bruto) do país, que indica o crescimento orgânico da economia do país. A segunda referencia é a correção do faturamento pela inflação do período. A terceira referencia é o crescimento de cada mercado individualmente.
Ao comparar o crescimento da empresa com estes índices, é que se verifica um crescimento real. No caso brasileiro, em que a economia oscila bastante, as empresas tem alguma dificuldade em identificar claramente estes parâmetros e verificar se estão realmente crescendo.
Quanto a necessidade de crescimento, ele é fundamental, pois o crescimento gera o aumento de volume, melhor uso da capacidade e estrutura e gera lucratividade cada vez maior. A cada degrau de faturamento, a empresa tem a oportunidade de melhorar a lucratividade.
E neste momento em que há redução do PIB?
Neste caso, é mais importante avaliar o mercado individual da empresa, quem são os seus clientes e como está este mercado em termos de volume de compra, ou seja, se há queda no mercado em que a empresa atua. Em alguns segmentos, consegue-se identificar o tamanho do mercado através de pesquisas, hierarquias econômicas, indicadores setoriais e associações de classe.
Quando não existir a informação, deve ser avaliada a evolução da empresa ao longo do tempo. Em outras palavras, é a comparação da empresa contra ela mesma.
Os empresários se frustram quando veem que o crescimento não acompanhou a expectativa, mas isso não é um demérito da empresa, então?
Quanto à expectativa, existe uma memória do empreendedor, em que a economia do Brasil cresceu continuamente e as empresas nasciam e cresciam naturalmente.
Por isso, há sempre uma expectativa de crescimento, mesmo quando a economia em queda.
No momento atual da economia, não crescer em faturamento é a média do mercado. Isso não deveria gerar frustração por ser um contexto que impacta a todos.
Será demérito se a empresa não reagir e não melhorar, ficando sujeita ao mercado em queda. O mérito será melhorar a produtividade, qualidade, atendimento, entrega, custo, etc. Quanto melhor a empresa for, mais forte para competir ela será, e consequentemente não sofrerá tanto com a crise.
Dá pra crescer mesmo com crise?
Sem dúvida, depende se o segmento específico da empresa está crescendo mais que o PIB, e depende fundamentalmente da empresa ser melhor que seus concorrentes para ganhar mercado, ou na crise, não perdê-lo.
O crescimento pode ser continuado ou é em ciclo?
Pode ser ambos, o crescimento contínuo é mais lento e natural, e a empresa vai se ajustando gradualmente.
Os ciclos de crescimento geralmente são consequência da economia e dos mercados, e internamente são dependentes da capacidade financeira, técnica, de pessoas, recursos, infraestrutura, etc. Se analisar pelo ponto de vista de finanças, a empresa tem ciclo de crescimento limitado pela capacidade de investir e reinvestir.
Como se define uma empresa saudável financeiramente?
Financeiramente, a empresa saudável tem duas métricas básicas, a lucratividade e a rentabilidade. A lucratividade é medida por lucro sobre a receita. A rentabilidade
é medida por lucro sobre o investimento. Existe todo um conjunto de métricas para avaliar a saúde financeira do negócio como os índices de liquidez, de risco, de retorno sobre capital, necessidade de capital de giro, etc.
Em um curso de finanças, ouvi de um experiente professor “nada fica impune”. Ele usou esta frase para explicar que toda e qualquer ação e decisão tem reflexos no presente e no futuro financeiro da empresa. As métricas de finanças que mencionei antes, medem todos estes efeitos e fazem uma espécie de checkup da saúde financeira da empresa.
Quanto importante é estar saudável financeiramente?
Como há uma dificuldade de crédito e risco de inadimplência, a falta de caixa gera alta despesa financeira. Conforme a empresa piorar em seu problema de caixa, passará a ter dificuldade de comprar, de financiar clientes e de operar normalmente. Passa a ser uma importante restrição para o dia a dia, gera tensão e demanda atenção permanente em resolver o caixa. Melhor seria dedicar este tempo para cuidar do negócio, da equipe, produtos, vendas, etc.
Que recomendações gerais você daria para uma empresa se sair bem?
O primeiro ponto é melhorar continuamente a Gestão da empresa, que é um processo que nunca pode parar, sempre tem que melhorar.
Também temos o Orçamento, onde se define um plano de receitas, de custos, de despesas, de investimento, etc. Este orçamento deve ser regularmente analisado, para identificar os pontos em que a empresa não está atendendo, e principalmente para gerar ações e ajustes necessários com maior velocidade.
Outro ponto importante é o Caixa, prestando muita atenção na necessidade de capital de giro (NCG), composta por estoques, crédito a clientes, contas a pagar e a receber.
E principalmente cuidar do lucro, pois com um mercado instável, naturalmente existirá menor previsibilidade das variáveis que impactam diretamente no resultado, como, faturamento, custos, despesas, volume de produção e vendas, etc.